2025/08/01
As Festas do Bodo são, há décadas, um marco no calendário de Pombal. São tradição, são identidade, e são também um motor de dinamismo económico e social. No entanto, por mais que nos alegremos com os concertos, os convívios e os milhares de visitantes, há uma realidade que não podemos continuar a ignorar: o custo das festividades e o modelo de financiamento atual.
Num contexto em que os encargos autárquicos continuam a crescer e em que os serviços essenciais enfrentam constrangimentos, importa refletir se o atual modelo gratuito das festas é sustentável ou justo.
A maioria dos visitantes usufrui das festas sem qualquer contribuição direta para o seu financiamento. O custo é suportado integralmente pelos pombalenses, através dos seus impostos, já os visitantes que usufruem muitos vêm de fora do município. Como justificar, por exemplo, a contratação de artistas de renome, com cachês elevados, sem uma comparticipação direta dos que os vêm assistir? Os concertos são gratuitos, mas alguém paga. E esse alguém são, invariavelmente, os contribuintes locais.
Já foi tentado, noutros anos, um modelo de bilhete pago para os concertos. A medida não foi bem acolhida, mais pela forma da sua implementação, do que pela ideia em si. Ainda assim, mesmo abandonando a ideia de cobrar bilhete, continuou-se a contratar artistas dispendiosos. Resultado: o retorno financeiro desapareceu, mas a despesa ficou. Os pombalenses deixaram de pagar bilhete, para pagarem via IRS, IMI ou taxas municipais.
Do ponto de vista liberal, esta situação é preocupante. O Estado, ou neste caso, o Município deve exercer um papel facilitador, mas responsável. As festas podem (e devem) continuar, mas com um modelo equilibrado e transparente, que envolve a sociedade civil, os promotores locais e os beneficiários diretos.
É legítimo perguntar: como é que deixamos as contas da autarquia chegar a este ponto? O modelo de gestão de eventos, especialmente o Bodo, é um dos grandes contribuintes para o desequilíbrio financeiro. E se fosse apenas o Bodo… Mas não é. Multiplicam-se os encargos, os eventos e os investimentos sem critério de retorno económico.
Urge reformular o modelo. Cobrar bilhetes para os concertos, envolver patrocinadores privados, reforçar o papel das associações locais na organização e publicar com clareza os custos e retornos de cada edição. Não para acabar com as festas, mas para as tornar sustentáveis.
Celebrar, sim. Mas sem comprometer o futuro. Sem criar a necessidade, no próximo orçamento, de subir impostos ou cortar onde não se deve cortar. Porque tradição sem responsabilidade é apenas um caminho rápido para a insustentabilidade.
Ricardo Santos, coordenador do núcleo da IL de Pombal